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13 novembro 2008

Veja a OPINIÃO do Machado da Graça na sua carta ao Rui

Olá amigo Rui

Espero que estejas bem de saúde. Nós, cá em
casa, estamos todos bem.
Estou-te a escrever hoje por causa do desaparecimento
súbito de um dos nossos concidadãos.
Refiro-me, é claro, ao engenheiro Daviz
Simango.
Até há pouco tempo ele era presença obrigatória
nos noticiários, devido à sua briga com a
direcção do seu partido, a Renamo. Todos os
pormenores foram devidamente esmiuçados.
De repente, com o início da campanha eleitoral,
o homem desapareceu.
Falo principalmente da Rádio Moçambique
onde, que eu tenha dado por isso (e eu ouço muito
a rádio), ele nunca passou pela antena.
E a Rádio tem uma série de programas
dedicados à campanha eleitoral: Dizem-nos o que
vai acontecer, dizem-nos o que aconteceu, entrevistam
os candidatos, um trabalho enorme, realizado,
segundo dizem, por mais de 200 jornalistas.
Ora toda essa gente tem estado sempre em
zonas diferentes daquelas em que Daviz Simango
está.
Nunca somos informados onde é que ele vai
hoje, onde esteve ontem e qual foi a sua actividade,
ainda não ouvi a sua voz na mais simples
entrevista.
É verdade que eu não ouço rádio 14 sobre 24,
mas as mesmas informações são repetidas em
mais do que um espaço informativo e, até agora,
de Daviz Simango não ouvi uma única palavra.
Sumiu...
Forte distracção me parece esta do nosso
principal órgão de informação do sector público,
cujos salários são pagos com base nos impostos
de todos nós, incluindo Daviz Simango.
Eu não quero acreditar que a santa aliança
entre a FRELIMO e a RENAMO, na Beira, contra
o jovem engenheiro esteja a afectar o profissionalismo
dos jornalistas da RM.
Tu acreditas, Rui?
Outra coisa que me está a fazer uma certa
confusão é a forma como essa enorme equipa de
profissionais está a fazer a cobertura da campanha.
Vão a um sítio e entrevistam o candidato do
partido X que acusa os membros do partido Y de
terem apedrejado a sua sede. Depois vão falar
com o candidato do partido Y que garante que
ninguém, do seu partido, se aproximou sequer do
local do apedrejamento.
E por aí se fica a reportagem.
O jornalista não é capaz de dizer aquilo que
viu com os seus próprios olhos: os vidros partidos,
as pedras atiradas, etc..
Dá a impressão que os jornalistas são cegos e
surdos servindo apenas, como alguém já disse, de
pés do microfone.
Ao agirem dessa forma os jornalistas da Rádio
muito provavelmente acham que estão a ser
imparciais com os vários partidos concorrentes.
Ora, na minha modesta forma de ver as coisas,
o compromisso do jornalista não é com os partidos
concorrentes, sejam eles quais forem. É com o
seu leitor, o seu ouvinte, o seu telespectador. É,
em resumo, com a verdade.
E esse compromisso manda que se noticie tudo
o que está a acontecer e possa ser do interesse
do público, quer isso agrade ao partido X ou
desagrade ao partidoY.
Enfim, meu caro Rui, coisas desta nossa
democracia tão peculiar.
Um abraço para ti do
Machado da Graça in Correio da Manha (Quinta-feira
13/Novembro/2008 MAPUTO)