Crónica de: Gento Roque Chaleca Jr. em Bruxelas
Ilha de Moçambique:
A Ilha de Moçambique continua a não se aguentar, com a sua coluna vertebral sempre a curvar em direcção à sua queda de velhice. Tanto se diz mas não parece que haja algo concreto para adiar a morte natural da primeira capital do nosso País.
Pedro Nacuo in Jornal Notícias (12/09/2009)
Exceptuando a terra onde nascemos e da morte, todo o resto depende da nossa própria selectividade: do Homem! A Ilha de Moçambique é, para o autor desta linhas, a mais bela terra que existe no mundo.
Nenhum outro pedaço de terra possui tanta história por contar como a Ilha de
Moçambique. De facto, não há um pedaço de terra na Ilha de Moçambique que não tenha agarrado um pedaço de história.
É um retalho de terra em terras de Nampula que têm muito que ver: monumentos, história, lendas, paisagens, estátuas, pergaminhos, igrejas, mesquitas, enfim, a sua gente. Aquela gente de generosidade infinita, tanto sabe amar como defender os valores da liberdade.
Quando os linguístas procuravam o significado da palavra “hospitalidade”, a gente da Ilha de Moçambique já era hospitaleira.
Mesmo nos momentos mais picantes da sua história ̶ em que a liberdade foi colocada em causa pelos seus invasores, o povo da Ilha de Moçambique soube erguer no interior sua alma, o baluarte de defesa desses valores. Ali nasceu Moçambique! O mais curioso quanto interessante é o facto do epítome do nome “Ilha de Moçambique” possuir dois géneros misto: masculino e feminino, ou seja: Ilha e Moçambique, ou Muhipiti, daí concluir, com algum sarcasmo inofensivo, que foram as belas macuas ‘muthianas’ da Ilha de Moçambique que deram parto à vergôntea que é hoje Moçambique!
Por um lado ela marca o período da dominação colonial portuguesa; por outro devido a pendência política entre a Frelimo e a Renamo e, quiçá, a nata intelectual daquele povo, pouco ou nada tem sido feito para salvar a primeira capital do nosso país, que foi elevada pela UNESCO a Património Mundial em 1991. Os avanços desenfreados de reclames publicitários (luminosos e cartazes) com as cores amarelas, azuis, branca, etc., retiram-lhe a estética e a beleza de um património cultural único em toda a Humanidade. As autoridades municipal e administrativa local nada fazem para travar a onda da poluição sonora de motorizadas que “invadem” o som das águas do Índico.
Não há na Ilha de Moçambique uma única universidade pública ou privada. Um único instituto politécnico ou um laboratório científico. A ponte só não cai porque Deus é justo para com os que mais sofrem. Falta água, o saneamento é deficitário. As ruas estão calvas. Os buracos são uma verdadeira ratoeira humana. A usura consumiu parte dos edifícios. A ilha vai flutuando sobre um passado histórico glorioso e o presente sofrido. As obras são feitas em ‘banho-maria’, deixando nítido o amadorismo de quem tem por direito velar pelo património de todos nós.
Não se trata de nenhuma ‘cruzada’ contra o executivo de Felismino Tocoli
mas há questões, no entender do autor destas linhas, que devem merecer a atenção do governo provincial, por exemplo: como é que se explica que em pleno século XXI (o século da Globalização e das Novas Tecnologias de Informação e
Comunicação) a Ilha de Moçambique não tem um portal próprio acessível ao país e ao mundo? Porque será que nas estampas do correio não aparece nenhuma imagem do potencial turístico e cultural da ilha?
Poderá também explicar porquê é que a Ilha de Moçambique não está na rota do progresso turístico-cultural? Com excepção da página ‘Moçambique para Todos’ de Fernando Gil, o nome da Ilha de Moçambique caiu em letras mortas nas instituições do Estado que tratam de coisas de tecnologias de informação e comunicação.
O que é preciso é colocar gente séria e conhecedora de coisas de património à frente dos destinos da ilha. Nampula não se deve queixar da falta de sorte. A mãe natureza foi pródiga para com esta província. Países há em que os governos vivem de receitas do património cultural e artístico. Nampula não pode continuar a estar refém das suas potencialidades porque o comboio do progresso, dizia António Guterres, não pára.
Este texto não pode terminar sem deixar uma palavra de gratidão à gente da Ilha de Moçambique. Já dizia o historiador português José Hermano Saraiva que a grandeza de uma terra não reside apenas naquilo que se produz, mas também na generosidade do seu povo. De facto, a grandeza da Ilha de Moçambique não reside tão-somente naquilo que ela produz, mas também na infinita e salutar bondade do seu povo. Quero também deixar expressa uma palavra de homenagem ao Centro Multimédia Comunitária (CMC) da Ilha de Moçambique, na pessoa do seu coordenador Amade Ismael (um dos raros homens que nunca fechou os olhos aos males da ilha, como por exemplo o problema do fecalismo a céu aberto).
‘Kochicuro’(Obrigado).
gentoroquechaleca@hotmail.com
WAMPHULAFAX – 28.09.2010
NOTA:
Há mais de 15 anos que através do MACUA DE MOÇAMBIQUE e do MOÇAMBIQUE PARA TODOS, via internet, levo a nossa querida ilha e as suas gentes ao mundo. Grato pela lembrança e referência.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE